O ruído atua através do ouvido sobre os sistemas nervosos central e autónomo. Quando o estímulo ultrapassa determinados limites, produz-se surdez e efeitos patológicos em ambos os sistemas, tanto instantâneos como diferidos. A níveis muito menores, o ruído produz incómodo e dificulta ou impede a atenção, a comunicação, a concentração, o descanso e o sono. A reiteração destas situações pode ocasionar estados crónicos de nervosismo e stress, o que por sua vez leva a transtornos psicofísicos, doenças cardiovasculares e alterações do sistema imunitário. A diminuição do rendimento escolar e profissional, os acidentes de trabalho e de tráfego, certas condutas antissociais e a tendência para o abandono das cidades são algumas das consequências.
Incómodo
É talvez o efeito mais comum do ruído sobre as pessoas e a causa da maior parte das queixas. A sensação de incómodo precede não só com a interferência com a atividade em curso ou com o repouso, mas também com outras sensações, menos definidas mas por vezes muito intensas, de estar a ser perturbado. As pessoas afetadas falam frequentemente de intranquilidade, inquietude, desassossego, depressão e ansiedade. Tudo isto contrasta com a definição de saúde dada pela Organização Mundial de Saúde: “Um estado de completo bem- estar físico, mental, e social, não mera ausência de doença”.
Interferência com a comunicação
O nível de som de uma conversação em tom normal, a 1 metro da outra pessoa, varia entre os 50 e 55 dB(A), falando aos gritos pode-se chegar a valores de 75 ou 80 dB(A). Por outro lado, para que a palavra seja perfeitamente audível é necessário que a sua intensidade supere em 15 dB(A) o ruído de fundo. Portanto um ruído de fundo superior a 35 ou 40 dB(A) provocará dificuldades na comunicação oral, que só se pode resolver, parcialmente, aumentando o tom de voz. A partir dos 65 dB(A) de ruído, a conversa se torna extremamente difícil.
Perda de atenção, concentração e de rendimento
A realização de uma tarefa implica concentração, no entanto se existir um ruído repentino este produzirá distrações que reduzem o rendimento em muitos tipos de trabalho, aparecendo erros e diminuindo a qualidade e quantidade de trabalho desenvolvida. Alguns acidentes, tanto laborais como de circulação, podem ser devidos a este efeito. Em certos casos as consequências são duradouras, por exemplo, uma criança submetida a elevados níveis de ruído durante a idade escolar, não só aprende a ler com maior dificuldade como também tende a alcançar patamares inferiores no domínio da leitura.
Transtornos durante o sono
O ruído influência negativamente o sono de três formas diferentes que se dão de maior ou menor grau segundo particularidades individuais, a partir dos 30 dB(A). 1 – Mediante a dificuldade ou impossibilidade de dormir. 2 – Causando interrupções no sono, que sendo repetidas podem levar a insónias. A partir dos 45 dB(A) a probabilidade de despertar é grande. 3 – Diminuição da qualidade do sono, sendo este menos tranquilo e acordar nas fases mais profundas pode provocar aumento da pressão arterial e do ritmo cardíaco.
Danos do ouvido
O efeito descrito neste item, (perda de capacidade auditiva) não depende da qualidade mais ou menos agradável que se atribui ao som recebido nem que este seja desejado ou não. Trata-se de um efeito físico que depende unicamente da intensidade do som, sujeito naturalmente a variações individuais. Na surdez transitória, ou fadiga auditiva, não existe lesão. A recuperação é normalmente quase completa ao fim de 2 horas e completa ao fim de 16 horas após cessar o ruído, se se permanecer num estado de conforto acústico. A surdez permanente produz-se por exposições prolongadas a níveis superiores a 75 dB(A), bem como a sons de curta duração a mais de 110 dB(A), ou por acumulação da fadiga auditiva sem tempo suficiente de recuperação. Existem lesões do ouvido interno.
Stress
As pessoas submetidas de forma prolongada a situações como as anteriormente descritas (ruídos que a tenham perturbado e frustrado os estados de atenção, concentração ou comunicação, ou que tenham sido afetadas na sua tranquilidade, descanso ou no sono), desenvolvem alguns dos síndromas seguintes:
• Cansaço crónico
• Tendência para ter insónias.
• Doenças cardiovasculares (o risco de ataques de coração em pessoas submetidas a valores superiores a 65 dB(A) no período diurno, aumenta entre os 20 a 30%.
• Transtornos no sistema imunitário responsável pela resposta às infeções e aos tumores.
• Transtornos psicofísicos como a ansiedade, depressão, irritabilidade, náuseas, enxaquecas.
• Variações de conduta, especialmente comportamentos antissociais tais como a hostilidade, intolerância e a agressividade.
Habituação ao ruído
Tem-se falado de casos de soldados que conseguem dormir junto a peças de artilharia a disparar ou de comunidades próximas de aeroportos que também conseguem dormir. É certo que a médio ou longo prazo o organismo se habitua ao ruído, empregando para eles dois mecanismos diferentes, para cada um dos quais se paga um preço diferente. O primeiro mecanismo é a diminuição da sensibilidade do ouvido e o seu preço é a surdez temporária ou permanente. O segundo mecanismo: é o cérebro que se habitua, isto é, ouvimos o ruído mas não nos damos conta. Durante o sono os sinais chegam ao nosso sistema nervoso, não nos desperta mas desencadeiam consequências fisiológicas, nomeadamente ao nível da frequência cardíaca, fluxo sanguíneo ou atividade elétrica cerebral. É a chamada síndroma de adaptação.
Resumo dos valores críticos
30 |
Dificuldade em conciliar o sono Perda de qualidade do sono |
40 |
Dificuldade na comunicação verbal |
45 |
Provável interrupção do sono |
50 |
Incómodo diurno moderado |
55 |
Incómodo diurno forte |
65 |
Comunicação verbal extremamente difícil |
75 |
Perda de audição a longo prazo |
110-140* |
Perda de audição a curto prazo |
Valores recomendados pela OMS
*Para sons impulsivos. Valores dependentes da duração do som e do número de exposições ao mesmo.